O Brasil está entre os maiores produtores de alimentos do Mundo. Neste contexto, o Paraná assume a liderança do PIB por Estado, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dividindo a quarta posição com o Rio Grande do Sul.
Sendo um Estado predominantemente agrícola, o Paraná tem em sua produção alimentícia a figura das Cooperativas Agroindustriais, que concentra mais de 60% de toda a produção agrícola do Estado.
Historicamente, o cooperativismo agrícola teve início no Estado do Rio Grande do Sul, sendo o pioneiro na atividade agroindustrial. Contudo, na década de 90, uma sucessão de erros de gestão, bem como uma série de desvios de finalidade cometidos por produtores que concentraram boa parte do poder em suas mãos, foram responsáveis por trazer resultados econômicos catastróficos que levaram várias Cooperativas à falência.
Já no Estado do Paraná, em razão das cooperativas serem fruto da migração de europeus para o Estado, os quais trouxeram o modelo já testado em seus países e com premissas muito bem definidas, a concentração de interesses ocorreu em prol dos cooperados, ao contrário do que ocorreu no Rio Grande do Sul.
Tal fator foi crucial para o sucesso da cadeia agroindustrial das Cooperativas Agrícolas paranaenses, que atualmente são a alma da produção agrícola do Estado. Para se ter uma ideia do tamanho da importância das Cooperativas Agroindustriais no Estado do Paraná, somente a COAMO, maior cooperativa do Estado, teve receita global de 24 bilhões no ano de 2021. No mesmo sentido, está o fato de que em 2021 o faturamento agropecuário paranaense foi de 144,2 bilhões de reais, dos quais 134,8 bilhões estavam vinculados às cooperativas.
O que está por trás de todo o sucesso do cooperativismo paranaense, muito se aproxima das práticas de governança trazidas pelo cooperativismo Europeu, mesmo antes da implementação da Governança Coorporativa. Dentre as semelhanças, destacam-se a observância dos princípios cooperativos e de governança, como a transparência, prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Em 2020, a COAMO foi premiada com o primeiro lugar na categoria governança pela Fundação Instituto de Administração (FIA), onde foram avaliadas as práticas de Governança aplicáveis à categoria observando temas como Propriedade, Conselhos de Administração e Fiscal, Gestão empresarial, Auditoria independente; Conduta, ética, corrupção e atos lícitos, e Conselho na inovação e tecnologia.
Como advogados atuantes no agronegócio, presenciou-se a implementação da Governança Corporativa em algumas das principais Cooperativas do Estado. Ao contrário do que se vê em grandes empresas do mercado de capitais, onde a governança existe como algo apenas necessário e não como algo essencial para o desenvolvimento econômico do negócio em si, a preocupação das cooperativas sempre esteve ao lado das melhores práticas.
As Cooperativas administram bilhões em sua gestão que representam a produção de todos seus Cooperados. Portanto, a gestão do dinheiro de terceiro e a busca da transparência para todo sistema cooperativo é o que a mantém em pleno crescimento.
Traçando um paralelo que elucide a diferença existente dentro das empresas de capital aberto com as cooperativas, tratando-se de Governança, talvez esteja ligado ao fato que o Cooperado participa ativamente da cooperativa, seja através da tomada de decisão das assembleias, seja através do conselho em que os principais conselheiros estão entre os principais cooperados, ao contrário do investidor de empresas de capital aberto, que na maioria das vezes é apenas investidor, sem gerencia sobre o patrimônio sob gestão.
Com essa breve análise, é possível concluir que o Cooperativismo Paranaense teve sua consolidação através das boas práticas de governança corporativa, em que se preza principalmente pela observância dos princípios norteadores da transparência, prestação de contas, e pela intenção do desenvolvimento econômico de maneira cooperada. Como dito anteriormente, tais princípios não foram respeitados pelas Cooperativas do Rio Grande do Sul e demais estados da federação, tanto que o cooperativismo fora do Paraná não é visto com bons olhos, exceto pelas Cooperativas Paranaenses que migraram para Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Maranhão e Pará. Contudo, tais Cooperativas mantiveram as suas operações em solo paranaense, sobe a égide de sua gestão e suas práticas de governança.
Importante também ressaltar a formação dessas grandes Cooperativas dentro de uma cultura trazida pelos imigrantes Europeus, que evoluíram seus modelos após entender a necessidade das boas práticas de governança para o desenvolvimento econômico privilegiando o bem comum.
Fonte sobre Cooperativismo: Sistema OCEPAR